Santarm, PA, 19.11.2024 - Queimada em rea de floresta ao longo do ramal do Rancho, na regio de planalto entre Santarm e Uruar, no Par. (Foto: Lalo de Almeida/Folhapress)
A perda de florestas atingiu novos recordes em todo o mundo no ano ado, atingindo 6,7 milhes de hectares, quase o dobro do registrado em 2023 e uma rea prxima a do territrio do Paran, a uma taxa de 18 campos de futebol por minuto. Os nmeros so da plataforma Global Forest Watch (GFW) do World Resources Institute (WRI) e foram divulgados na ltima semana.
Segundo a WRI, esta a primeira vez desde o incio das medies do GFW que os incndios, e no a agropecuria, foram a principal causa da perda de florestas primrias tropicais em todo o mundo, representando quase 50% de toda a destruio. Nos anos anteriores os incndios eram responsveis, em mdia, por apenas 20% do total perdido.
E a perda no foi s em biodiversidade. Globalmente, os incndios emitiram 4,1 gigatoneladas de gases de efeito estufa – liberando mais de 4 vezes as emisses de todas as viagens areas em 2023.
Alm disso, a anlise mostrou que, tambm pela primeira vez, os grandes incndios ocorreram tanto nos trpicos quanto nas florestas boreais. Segundo a WRI, em 2024, o ano mais quente j registrado, condies extremas alimentadas pelas mudanas climticas e pelo El Nio tornaram esses incndios mais intensos e difceis de controlar.
Embora as florestas tenham a capacidade de se recuperar do fogo, o WRI lembra que a presso combinada da converso de terras e de um clima em mudana pode dificultar essa recuperao e aumentar a probabilidade de incndios futuros.
O Instituto tambm ressaltou que a perda de florestas primrias tropicais impulsionada por outras causas tambm aumentou em 14%, o maior aumento desde 2016.
“Este nvel de perda florestal diferente de tudo que vimos em mais de 20 anos de dados. um alerta vermelho global – um chamado coletivo ao para cada pas, cada empresa e cada pessoa que se preocupa com um planeta habitvel. Nossas economias, nossas comunidades, nossa sade – nada disso pode sobreviver sem florestas, disse Elizabeth Goldman, Co-Diretora do Global Forest Watch do WRI.
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De acordo com a anlise, dois teros da perda florestal no Brasil (66%) foram causadas por incndios alimentados pela seca extrema registrada em 2024. Mas alm do fogo, a perda de florestas primrias por outras causas tambm aumentou em 13%, principalmente devido agricultura em larga escala para soja e gado, embora seja menor do que os picos observados no incio dos anos 2000 e na era Bolsonaro.
“O Brasil progrediu no governo Lula, mas a ameaa s florestas ainda persiste. Sem investimentos sustentados na preveno de incndios florestais, fiscalizao mais rigorosa nos estados e foco no uso sustentvel da terra, conquistas arduamente conquistadas correm o risco de serem desfeitas”, diz Mariana Oliveira, Diretora do Programa de Florestas e Uso da Terra do WRI Brasil.
CORUMB, MS, 17.06.2024: QUEIMADA-MS – Brigadistas do Prevfogo do Ibama combatem incndios em frente a regio da APA Baa Negra (rea de Proteo Ambiental), s margens do rio Paraguai, no Pantanal, em Corumb, na segunda-feira (17). (Foto: Bruno Santos/Folhapress)
Na Bolvia, a perda de floresta primria disparou 200% em 2024, totalizando 1,5 milho de hectares. Com isso, a Bolvia fica em segundo lugar na perda de floresta primria tropical, atrs apenas do Brasil, ultraando a Repblica Democrtica do Congo, apesar de ter menos da metade de sua rea florestal.
Na Colmbia, a perda de floresta primria aumentou em quase 50%. No entanto, ao contrrio de outras partes da Amrica Latina, os incndios no foram a principal causa. Em vez disso, a perda no relacionada a incndios aumentou em 53%, devido instabilidade decorrente do rompimento das negociaes de paz, incluindo minerao ilegal e produo de coca.
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Em 2024, a Repblica Democrtica do Congo (RDC) e a Repblica do Congo (ROC) registraram os maiores nveis de perda de floresta primria j vistos, mostra o trabalho da WRI.
Na ROC, a perda de floresta primria disparou 150% em comparao com o ano anterior, sendo que incndios, agravados por condies de calor e seca incomuns, causaram 45% dos danos. Assim como a Amaznia, a Bacia do Congo desempenha um papel crucial como sumidouro de carbono, mas o aumento dos incndios e da perda florestal agora ameaa sua funo vital.
Na RDC, a pobreza, a dependncia das florestas para alimentao e energia e o conflito contnuo impulsionado por grupos rebeldes alimentaram a instabilidade e levaram ao aumento do desmatamento, impulsionando ainda mais a perda florestal.
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Os pases do Sudeste Asitico foram os nicos que no registraram aumento na quantidade de florestas perdidas. A Indonsia reduziu a perda de floresta primria em 11%, revertendo um aumento constante entre 2021 e 2023. Os esforos sob o ex-presidente Joko Widodo para restaurar terras e conter incndios ajudaram a manter as taxas de incndio baixas, mesmo em meio a secas generalizadas.
Da mesma forma, a Malsia registrou uma queda de 13% e pela primeira vez saiu da lista dos 10 pases lderes em perda de floresta primria tropical.
Cristiane Prizibisczki 26z3v
Jornalista com quase 20 anos de experincia na cobertura de temas como conservao, biodiversidade, poltica ambiental e mudanas climticas. J escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas. →