Coluna Meio Ambiente : Atlas da Amaznia Brasileira contribui com desconstruo de esteretipos
Enviado por alexandre em 06/05/2025 10:59:10

Atlas da Amaznia Brasileira contribui com desconstruo de esteretipos
Foto: Reproduo 464e

Entre os 58 autores e autoras, esto 19 indgenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos

O Atlas da Amaznia Brasileira foi lanado nesta segunda-feira, 5, pela Fundao Heinrich Bll no Brasil, e busca desconstruir esteretipos da regio com um contedo que contribui para uma mudana urgente de perspectiva, para que pessoas do Pas e do mundo possam conhecer a Amaznia novamente, desta vez sob a perspectiva dos diversos habitantes da regio.

Trata-se de uma publicao indita com 32 artigos que abordam os desafios, os saberes e as potncias da maior floresta tropical do planeta. A iniciativa busca ampliar o debate sobre justia climtica e territorial em um ano marcado pela realizao da COP30 na Amaznia brasileira. Entre os 58 autores e autoras, esto 19 indgenas, cinco quilombolas e dois ribeirinhos.

Para o coordenador da rea de Justia Socioambiental da Fundao Heinrich Bll no Brasil e co-organizador do atlas, existe uma viso de que a Amaznia s floresta, mas existe uma riqueza singular na regio que muitas vezes fica invisibilizada.

Veja tambm

Sema apoia operao de apreenso de quatro toneladas de pescado ilegal na RDS Piagau-Purus

Manaus e Santo Antnio do Ia: Pescadores artesanais solicitam R$ 811,9 mil em crdito rural

“A gente mal sabe que 75% da populao da Amaznia urbana. Tem povos e comunidades que h muito tempo trabalham na relao com a natureza, com formas de proteo e preservao ambiental com a construo de um bem viver cada vez mais sustentvel. preciso colocar quem est nos territrios para ter um papel de protagonista nesses debates.”

Segundo da Fundao, entre 2019 e 2022, a Amaznia registrou recordes de desmatamento (principalmente para abertura de pastagem para criao de gado); o garimpo ilegal em reas protegidas (principalmente em terras indgenas da regio amaznica) cresceu em 90%; e cidados estimulados pelo avano da extrema direita se armaram – entre 2018 e 2022 o nmero de pessoas com registro de armas na Amaznia Ocidental aumentou 1.020%.

Ao mesmo tempo, em 2022 a Amaznia reuniu mais de um quinto dos assassinatos de defensores do meio ambiente em todo o mundo: foram 39 ativistas assassinados na regio naquele ano.

CRISES

Em 2023, o mundo teve o s cenas da crise humanitria vivida pelo povo indgena Yanomami, cujo territrio, nos anos anteriores, foi tomado pela atividade garimpeira ilegal.

No mesmo ano, a Amaznia foi assolada por uma intensa crise climtica, com secas extremas e rios alcanando os mais baixos nveis j registrados, o que, alm da morte de animais, impactou sua extensa infraestrutura fluvial, levando escassez de gua potvel e alimentos, alm da dificuldade de o a aparelhos pblicos.

Os danos no foram totalmente superados e outra seca atingiu a regio em 2024. No mesmo ano, o bioma amaznico concentrou o maior nmero de focos de incndio dos 17 anos anteriores, e o impacto da fumaa na qualidade do ar prejudicou a sade de milhares de pessoas – sendo transportada pela atmosfera para outros estados das regies Centro Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Outros biomas que compem a Amaznia Legal, como o Pantanal e o Cerrado, tambm atingiram recordes de queimadas.

Foto: Reproduo

Assim, na avaliao da fundao, os ltimos anos parecem ter desenhado um futuro sombrio para a Amaznia e sua populao, seja pelos impactos do colapso climtico na regio, seja pelas disputas polticas que ditam no apenas o ritmo da intensificao de crimes ambientais (cada vez mais organizados pelas faces do trfico de drogas nos territrios), mas os interesses econmicos que orientam grandes projetos para a regio.

“Em contrapartida, a Amaznia territrio de uma efervescente mobilizao de movimentos sociais, coletivos e organizaes socioambientais que tm se tornado linha de frente das discusses envolvendo tanto a gesto territorial regional, quanto a agenda climtica global”, diz a fundao.

“Essa mobilizao envolve a valorizao dos modelos de pensamento dos povos e comunidades, que constroem relaes com o territrio e seus seres bastante distintas daquelas que guiam os setores responsveis pelo iminente colapso climtico”, afirma.

CRIME ORGANIZADO


No artigo Crime Organizado, os autores Aiala Colares Couto (professor e pesquisador na rea de geografia da Universidade do Estado do Par – UEPA) e Regine Schnenberg (Fundao Heinrich Bll) traam as dinmicas das faces criminosas na regio amaznica.

Segundo eles, importantes rotas do trfico de drogas am pela Amaznia brasileira e controlar essas rotas e os mercados locais se tornou o objetivo das faces. Com a profissionalizao do narcotrfico e sua relao com os crimes ambientais, a regio vive um processo de interiorizao da violncia.

“Estudos apontam que, desde os anos de 1980, a bacia amaznica utilizada pelo crime organizado. Na poca, como um importante corredor para o escoamento de cocana que entrava pelas fronteiras do Brasil com os pases andinos, principalmente Bolvia, Colmbia e Peru, que at hoje se destacam como os maiores produtores de cocana do mundo”, dizem os autores.

De acordo com Aiala e Regine, faces criminosas que antes atuavam na Regio Sudeste aram a ter mais presena na Amaznia, tais como, o Primeiro Comando da Capital (PCC), de So Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.

Alm disso, faces regionais aram a se organizar na regio instituindo relaes de poder e controle dos territrios, a exemplo da Famlia do Norte (FDN) do Amazonas e Comando Classe A (CCA) do Par, fazendo alianas e enfrentamento aos grupos faccionais no-regionais, algo que contribuiu de forma significativa para os conflitos violentos na Amaznia.

Segundo os autores, a relao entre o narcotrfico e os crimes ambientais se d por meio de atividades ilegais como explorao ilegal de madeira, contrabando de minrios (mangans e cassiterita) e grilagem de terras. Essas atividades vm sendo financiadas pelo crime organizado nos ltimos anos, principalmente como estratgia de lavagem de dinheiro.

“Em relao ameaa aos territrios indgenas, destacam-se a expanso do garimpo ilegal do ouro e a invaso desses territrios por integrantes de faces criminosas, aliciando jovens indgenas e alterando o cotidiano das comunidades”, dizem os pesquisadores, que alertam para o alcance desse impacto.

“Tambm se enfatiza a aproximao a esses povos gerada pelos vrios meios de transporte das drogas, seja via estradas prximas ou interligadas s Terras Indgenas, pelos rios que se conectam a elas ou pela utilizao de aeronaves que pousam em pistas clandestinas construdas ilegalmente nas reas protegidas.”

Nascido no quilombo de Menino Jesus de Pitimandeua, no municpio de Inhangapi, no Par, o pesquisador Aiala diz que h uma dificuldade na ao do Estado no que diz respeito agilidade do processo de interveno no combate ao crime organizado. “O crime organizado no a por processos burocrticos para agir. A agilidade do crime organizado em suas mltiplas conexes acaba se sobrepondo s aes governamentais que dependem de recursos financeiros e da desburocratizao por parte do governo”.

A FUNDAO

A Fundao Heinrich Bll uma organizao poltica alem presente em mais de 42 pases. Promover dilogos pela democracia e garantir os direitos humanos; atuar em defesa da justia socioambiental; defender os direitos das mulheres e se posicionar como antirracista so valores que impulsionam as ideias e aes da fundao.

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS noFacebook,Twittere noInstagram

Entre no nosso Grupo deWhatApp,CanaleTelegram

No Brasil, a Fundao apoia projetos de diversas organizaes da sociedade civil, organiza debates e produz publicaes gratuitas. No campo da justia socioambiental, busca fortalecer o debate pblico que alie a defesa do meio ambiente garantia dos direitos dos povos do campo e da floresta. A fundao completa 25 anos de atuao no Brasil.

Fonte: Revista Cenarium

LEIA MAIS

P Enviar esta hist Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notcia